segunda-feira, 11 de abril de 2011

Mulher Perdigueira

A mulher perdigueira sofre um terrível preconceito no amor.

Como se fosse um crime desejar alguém com toda itensidade. Ela não deveria confessar o que pensa ou exigir mais romance. Tem que se controlar, fingir que não está incomodada, mentir que não ficou machucada por alguma grosseria, omitir que não viu a cantada do seu parceiro para outra.

Ela é vista como uma figura perigosa. Não pode criar saudade das banalidades, extrapolar a cota de telefonemas e perguntas. É condenada a se desculpar pelo excesso de cuidado. Pedir perdão pelo ciúme, pelo descontrole, pela insistência de sua boca.

Exige-se que seja educada. Ora, só o morto é educado.

O homem inventou de discriminá-la. Em nome do futebol. Para honrar a saída com os amigos. Para proteger suas manias. Diz que não quer uma mulher o perseguindo. Que procura uma figura submissa e controlada que não pegue no seu pé.

Eu quero. Quero uma mulher segurando meus dois pés. Segurar os dois pés é carregar no colo.

Porque amar não é um vexame. Escândalo mesmo é a indiferença.

Fabrício Carpinejar

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