sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Os teus pés


Os teus pés
(Pablo Neruda)
“Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.

Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso
sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
a duplicada púrpura
dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos
que há pouco levantaram voo,
a larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira,
pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
é só porque andaram
sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem.”


Qual a função dos nossos pés, senão nos levar na direção de nossos mais tresloucados sonhos?
Qual melhor função do que aquela de nos fazer correr ao encontro de alguém que nós nos enamoramos?
Ou ainda, nos sustentar firmes ao chão quando nossas pernas se esquecem de fazê-lo e tornam-se geléia à simples aparição do ser escolhido?

Sim. Nossos pés. Nossos queridos pés...

“E então, naquele momento ele percebeu que não podia estar mais encantado, do que estava de fato, por aquela morena que ele encontrou unicamente no passado e que deixou nele um misto de saudade e curiosidade.

As coisas são engraçadas. Assim mesmo. Os mesmos pés que aproximam dois seres, são os pés que se despedem e andam em direções opostas, levando consigo muitas probabilidades.

Para eles, levou o afastamento. Porque desde então nunca mais se encontraram. Seus pés não cruzaram as mesmas ruas, nem pisaram nas mesmas calçadas, mas de alguma forma, á uma boa distância, se tornavam iguais.

Sem querer, com o passar dos meses e das conversas furtivas por uma tela de computador, seus pés misteriosamente se completavam.
Se ela andava, ele andava também. Se doía, doía o dela também. Até que um dia um deles tropeçou e foi o outro que caiu ao chão.

O negócio é que não importou se foram pés, mãos ou corações, não importou como, nem onde, eles passaram a coexistir em um mundo só deles.O encantamento, o desejo e a curiosidade foi-se dividida entre duas pessoas, duas cidades, dois estados. Elevando-os ao mesmo pulsar de contentamento que recém apaixonados vivenciam.

E agora eles seguem na expectativa de deixar seu pés andarem, livres e certos, de que em alguma dessas esquinas, eles irão novamente se encontrar. Interessados, ávidos e completamente conscientes de seus caminhos.

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