terça-feira, 18 de agosto de 2009

Arnaldo Jabor sobre o Sul ....

Pois é.

O Brasil tem milhões de brasileiros que
gastam sua energia distribuindo
ressentimentos passivos.

Olham o escândalo na televisão e
exclamam 'que horror'.

Sabem do roubo do político
e falam 'que vergonha'.

Vêem a fila de aposentados
ao sol e comentam 'que absurdo'.

Assistem a uma quase pornografia
no programa dominical de televisão
e dizem 'que baixaria'.

Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram 'que medo'. E pronto!
Pois acho que precisamos de uma transição 'neste país'.
Do ressentimento passivo à participação ativa'.

Pois recentemente estive em Porto Alegre,
onde pude apreciar atitudes com as quais
não estou acostumado, paulista/paulistano que sou.

Um regionalismo que simplesmente não
existe na São Paulo que, sendo de
todos, não é de ninguém. No Rio Grande do Sul,
palestrando num evento do Sindirádio, uma surpresa.

Abriram com o Hino Nacional..
Todos em pé, cantando.
Em seguida, o apresentador
anunciou o Hino do Estado do Rio Grande do Sul.

Fiquei curioso. Como seria o hino?
Começa a tocar e, para minha surpresa,
todo mundo cantando a letra!

'Como a aurora precursora /
do farol da divindade, /
foi o vinte de setembro /
o precursor da liberdade '
.
Em seguida um casal, sentado do meu lado,
prepara um chimarrão.
Com garrafa de água quente e tudo.
E oferece aos que estão em volta.

Durante o evento, a cuia passa de
mão em mão, até para mim eles oferecem.

E eu fico pasmo. Todos colocando a boca
na bomba, mesmo pessoas que não se
conhecem. Aquilo cria um espírito de
comunidade ao qual eu, paulista,
não estou acostumado.

Desde que saí de Bauru,
nos anos setenta, não sei mais o que é 'comunidade'.

Fiquei imaginando quem é que sabe cantar
o hino de São Paulo.
Aliás, você sabia que São Paulo tem hino? Pois é....

Foi então que me deu um estalo.

Sabe como é que os 'ressentimentos passivos'
se transformarão em participação ativa?

De onde virá o grito de 'basta' contra
os escândalos, a corrupção e o deboche
que tomaram conta do Brasil?

De São Paulo é que não será.

Esse grito exige consciência coletiva,
algo que há muito não existe em São Paulo.
Os paulistas perderam a capacidade
de mobilização. Não têm mais interesse
por sair às ruas contra a corrupção.

São Paulo é um grande campo de refugiados,
sem personalidade, sem cultura própria, sem 'liga'.
Cada um por si e o todo que se dane.
E isso é até compreensível numa
cidade com 12 milhões de habitantes.

Penso que o grito - se vier - só poderá
partir das comunidades que ainda têm
essa 'liga'... A mesma que eu vi em Porto Alegre.

Algo me diz que mais uma vez o povo do Sul
é que levantará a bandeira. Que buscarão
em suas raízes a indignação que não se
encontra mais em São Paulo..

Que venham, pois. Com orgulho me juntarei a eles.

De minha parte, eu acrescentaria, ainda:

'...Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda terra...'

Arnaldo Jabor

Um comentário: