domingo, 15 de fevereiro de 2009

Cansaço

Tenho um grande amigo que escreve muitoooo! Aliás, ele escreve tão bem, que muitas das crônicas dele nos fazem enxergar um espelho.
Reflete cada pedacinho de nós...

Ele tem um dos meus blogs preferidos. E o nome dele é Marcos Cabral.
Esse texto é impossível não colocar no meu blog, não só pra homenageá-lo mas também por ser tão verdadeiro e tocar fundo na minha alma.
Espero que gostem!


Estou cansada de fingir. Cansada de encher a boca para anunciar como sou atraente para os homens, quando na verdade tudo que eu queria era chamar atenção apenas de uma pessoa. De saco cheio de falar pelos cotovelos, quando tudo que eu preciso é ficar um pouco em silêncio e pensar, refletir, quem sabe me acalmar. Esgotada por completo de tudo. Até mesmo de dizer que estava com saudade de mim mesma, quando na verdade não sei se sentia tanta falta assim. Afinal, nem sei quem é essa estranha desconhecida: eu mesma.


Não posso mais suportar a dor da batalha, o paradoxo que existe dentro de mim. Sou um retrato em três por quatro do mundo. Da espécie humana. Todos são atores, interpretam papéis e fingem ser o que não são. Inclusive eu. Tímidos que fingem ser extrovertidos para não expor sua introspecção. Extrovertidos que se passam por tímidos, para atrair a atenção exatamente pela timidez calculadamente treinada. E a sinceridade some, pouco a pouco, até que cada um de nós perca a exata medida do que é. Estranho assim.


Eu, por exemplo. Sou uma mulher carente. Melancolicamente abandonada por mim. Isso me leva a gritar em frente ao espelho, dizer em alto e bom som que todos me amam, que eu sou o ser mais atraente desse planeta para tentar me convencer. Mas no fundo, não consigo enganar e nem sequer atrair quem realmente interessa: eu. E por ter fugido de mim, vou criando essa farsa maior, tentando colocar dentro da mesma veste um outro ser, criado meticulosamente. E que é diametralmente oposto a mim.

Só o que eu desejo é um pouco de atenção. É tudo que preciso há muito tempo e o que mais me deixa infeliz quando não consigo obter. Sempre sonhei com uma família normal, um marido, dois filhos, uma casa para cuidar, um cachorro para brincar. Nada que fuja muito disso. Mas preferi fingir que desprezava tudo isso. Marido, filhos, cachorro, tudo besteira. De repente, decido que sou da noite, da festa, da bebida. Desprezo sentimentos, odeio as imposições sociais hipócritas. Monogamia deveria ser crime. Quero provar muitos homens, mesmo tendo um a me esperar em casa quando chego, cheirando a bebida e cigarro. Tempos modernos baby.

Subverto-me a cada segundo. E a mulher forte, decidida e inabalável que acaba de dar uma resposta fatal para um comentário fútil, de repente, derrete-se em lágrimas. Borra toda a maquiagem estrategicamente pensada. Para chocar? Ou apenas para ser comentada? O choro convulsivo também passa a ser questionável. Mais uma arma para atrair os olhares do mundo, como a resposta malcriada que antecedeu o choro? Como o cigarro que queima pelos cantos, apenas por causa da placa bem visível que anuncia: proibido fumar. Estou cansada de dormir sem saber quem está ali. Meu sono escapa, voa pela janela, só fica a lassidão de mim.


Estou cansada de criticar o sistema. De apontar os defeitos escandalosamente expostos, de falar mal do que está aí até cansar. Xingar, xingar e xingar. Finjo, tento enganar-me. Mas tudo o que eu quero é pular para dentro do sistema, ser parte dele. Aproveitar-me das benesses, das mamatas, das falcatruas. Legais, mas imorais. Quero ser amoral, que me dêem a pílula azul. Vou mergulhar no sistema sem olhar para trás, sem peso na consciência, sem crises morais. Meu preço é vil, o metal também. Faltam propostas, quero chorar. Por fineza, paguem a última conta do analista, nunca mais quero saber quem eu sou.

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