quinta-feira, 2 de abril de 2009

Quem sou eu?

Quem sou eu? Continuo perplexo. Não sei traçar uma moldura precisa para mim mesmo.

Sou a mistura dos sons, paladares e cores de minha terra; o tamborilar da chuva na telha de barro que ressoa desde o lar mais remoto; a memória sobrevivente de ancestrais já defuntos; o aroma de uma velha cozinha mal cuidada; a ruptura de desejos pueris; o escombro de tragédias sem reposta; a sintaxe de um idioma que se fez pátria; a sede do transcendente que reluz nos olhos inquietos de um menino; o medo perene da rejeição; a carência de um peito acolhedor; a encarnação do fracasso repetido; a vertebração de perseverar como dever; o profeta da impotência; o criador da cisma infundada; o filho que se alterna terno e insensível; o pêndulo que confunde melancolia com nostalgia; o covarde que se revela tenaz; o corajoso que claudica; o cético cheio de fé; o santo que não passa de ordinário.

Um comentário:

  1. É, você não é a única a ter dúvidas sobre a sua identidade. Mas pensar nisso já é um começo para a gente ter uma noção um pouquinho mais precisa do que realmente somos. Conhece a ti mesmo, não é? Pena que hoje em dia a gente tenha tão pouco tempo para refletir um pouco, mas escrever é uma grande ajuda..
    Beijãooooo!
    PS: a foto do humor do dia tá muito bonita!!

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